Não há como iniciar um trabalho como esse sem
falar do próprio nome de nossa cidade. Seu nome confunde-se e mistura-se com a
própria história da colonização desta região.
Muito antes de Caçador se tornar município, a
região do Alto Vale do Rio do Peixe era uma grande floresta de mata fechada. Às
margens do Rio do Peixe (chamado de Goioechim
(pequeno rio) pelos índios) viviam grupos primitivos, Kaingang e Xokleng, que
foram substituídos pelos desbravadores que começavam a chegar a partir o ano de
1881. Os primeiros habitantes, depois dos índios, chegaram no início do século
XIX. Eram caboclos oriundos da miscigenação de portugueses e espanhóis com os
nativos Kaingang e Xokleng.
Conhecidos como mateiros, esses caboclos viviam
da própria subsistência através da extração da erva-mate, pinhão e pequenas
criações de animais.
Enquanto isso, regiões vizinhas como Campos
Novos e Nossa Senhora dos Prazeres das Lages ao sul, e São João de Cima, Irani
e Palmas ao norte, viviam pleno desenvolvimento devido a sua geografia
privilegiada para a criação de gado e cultivo de grandes plantações, principais
atividades econômicas da época.
Localizada no meio dessas regiões de campos,
Caçador acabou se tornando rota de passagem de tropas que faziam o caminho Rio
Grande do Sul – São Paulo. No entanto, o maior desenvolvimento e produtividade
na criação de gado das áreas planas da região de Vacaria – Lages, fez com que o
caminho principal das tropas fosse estabelecido na rota Lages – Santa Cecília –
Mafra, onde atualmente é a BR 116. Desta forma, a rota entre Campos Novos –
Caçador – Palmas tornou-se uma rota secundária.
Esta rota consolidou-se como via alternativa,
como mostram antigos documentos, devido ao fato de que a região de Caçador era
um dos poucos lugares em que o Rio do Peixe permitia fácil passagem das tropas.
Segundo alguns mapas da época, esses pontos de travessia eram onde hoje se
encontram a Ponte de Madeira Antônio Bortolon e na Vila Kurtz.
É válido lembrar e contextualizar que, nesta
época, o país vivia seu início de independência, obtida em 1822, e o lento
progresso e desenvolvimento ainda era uma conquista diária dos esforços de um
governo imperial centralizado no Rio de Janeiro e com poucas incursões até
estas terras do Sul do país, ocasionando até mesmo uma delicada questão de
fronteiras ainda não bem estabelecidas.
Além disso, as forças imperiais brasileiras
acabavam de sair de um conflito de grandes proporções e de longa duração envolvendo
inicialmente o Rio Grande do Sul, com a Revolução Farroupilha, e que chegou a
envolver também Santa Catarina com a proclamação da República Juliana, em 1839.
Outra parte da população chegou depois de 1850,
quando a Lei das Terras, instituída naquele ano, encerrou o sistema de
sesmarias e, através da compra de terras que quanto mais afastadas dos centros
das províncias, mais acessíveis se tornavam, viabilizou a instalação de
pequenas e médias propriedades. Distante das duas capitais, Florianópolis de um
lado, e Curitiba do outro, a região teve lento desenvolvimento. As vilas e
fazendas eram ligadas por estradas abertas pelos tropeiros na mata.
Ainda um distante rincão, a localidade começa a
ter uma efetiva colonização através do desbravador Francisco Corrêa de Mello.
Em 1881, o município de Campos Novos, desmembrado do município de Curitibanos
exatamente naquele ano, se dá conta da importância dessa região e incentiva
Francisco Corrêa de Mello a garantir a posse das terras devolutas do Alto Vale
do Rio do Peixe. Juntamente com a esposa e 10 filhos, Corrêa de Mello funda a
Fazenda Faxinal do Bom Sucesso, com a devida escritura de posse e área que
seria delimitada pelo rio conhecido hoje como Rio Caçador, a noroeste, e o rio
conhecido na atualidade por Rio Castelhano, a sudoeste, sempre à margem
esquerda do Rio do Peixe. Deve ser lembrado que o Rio do Peixe demarcava os
limites do recém criado município de Campos Novos, separando-o, nestas
paragens, do município de “Porto União da Vitória”, antes ainda da contenda que
questionava limites entre as então “províncias” e, depois, já no período
republicano, “estados”, de Santa Catarina e Paraná.
Há indícios que relatam que a sede inicial da
fazenda era onde hoje se localiza a parte alta do Bairro Berger, de acordo com
o professor Gerson Witte. Os relatos da proximidade com uma grande queda d’água
no curso do rio corroboram esta estimativa.
A pretendida colonização não ocorre
propriamente, pois, sem condições de promover o real desenvolvimento da região,
por ser uma mata fechada, Corrêa de Mello passa a viver da própria
subsistência, mais precisamente da caça, com o objetivo apenas de manter a
posse das terras. Em 1887 Pedro Ribeiro e, em 1891, Tomaz Gonçalves Padilha,
vieram pra região. Este último era cunhado de Corrêa de Mello, chegou até o Rio
15 de Novembro e se estabeleceu na região onde hoje é o Distrito de Taquara
Verde.
Mais uma vez contextualizando os
acontecimentos, ocorria nesta época a deposição do Império Brasileiro e a
implantação da República, em 15 de Novembro de 1889.
Exatamente nesta época, desenrolava-se longe
dos olhos e fora do alcance da incipiente população residente neste local uma
verdadeira batalha jurídica pela questão de fronteiras entre Brasil e
Argentina. Baseada em termos do “Tratado de Madri” de 1750, o país vizinho
pleiteava terras que ocupavam grande parte do que é hoje o oeste dos estados de
Santa Catarina e do Paraná, sendo um dos limites desta fronteira localizado
muito próximo à futura cidade de
Caçador, especificamente nos rios Jangada e Chapecó.
A presença destes colonizadores nestas terras,
certamente não sozinhos, mas associados a diversas outras presenças pela
região, auxiliou em muito o trabalho desenvolvido por um experiente advogado e
diplomata brasileiro, José Maria da Silva Paranhos Júnior, o Barão do Rio
Branco. O trabalho desenvolvido pelo Barão do Rio Branco na questão dos limites
de fronteira entre o Brasil e a Argentina, conhecida como “Questão de Palmas”,
formou uma valiosa documentação, reunida em seis volumes: A questão de limites entre o Brasil e a República Argentina (1894).
Como questão de limites territoriais entre nações, ficou acordado pelas
chancelarias dos dois países que a solução seria arbitrada pelo presidente
norte-americano Grover Cleveland, que deu ganho de causa ao Brasil.
O fato que chama a atenção e liga esta questão
à presença de Francisco Corrêa de Mello nestas terras é que esse caso consagrou
o princípio do direito privado romano do Uti
Possidetis, derivado da frase em latim
"uti possidetis, ita possideatis" ("quem possui de fato,
deve possuir de direito"). Esta afirmação, e o uso que dela fez o Barão do
Rio Branco, faz com que ganhe uma imensa importância histórica a presença de
colonos nestas terras, consolidando e delineando os contornos aproximados do
Brasil atual.
Com vistas à consolidação da posse destas
regiões e com o intuito de ampliar as possibilidades de desenvolvimento, poder
e arrecadação, o governo da república inicia uma ligação por estrada de ferro
ligando São Paulo ao Rio Grande do Sul. Em 1907 a Estrada de Ferro São Paulo –
Rio Grande do Sul começa a ser construída em território catarinense. Margeando
o Rio do Peixe, os trilhos chegam à Fazenda Faxinal do Bom Sucesso onde se fez
necessária a construção de uma ponte para a passagem do trem sobre o rio que
naquela época chamava-se Rio Lajeado do Simeão.
Neste ponto, chegamos ao fundamento histórico
que origina o nome de nossa cidade. Embora não se tenha nenhum registro
oficial, acredita-se que a construção da ponte sobre o Rio Lajeado do Simeão
trouxe inúmeros engenheiros e operários para a região, encontrando aqui o dono
das terras, Corrêa de Mello.
Exímio caçador de pacas, antas e veados, ele
passou a vender a carne e pele dos animais para os trabalhadores da ponte,
sendo que o local ficou conhecido popularmente como o “Rio do Caçador”.
Posteriormente foi inaugurada a Estação Ferroviária que levou o nome de
“Estação Rio Caçador”. Esse (Rio Caçador) foi o nome que se adotou para o então
distrito pertencente ao município de Campos Novos.
Com a implantação da estrada de ferro, e
especialmente da estação ferroviária, novos distritos foram se formando, em
especial o Distrito de Vila Santelmo, então pertencente ao município de Porto
União.
A chegada do progresso, representado pela
ferrovia, além de suas incontáveis consequencias de desenvolvimento, entretanto,
não ocorre em uma relação pacífica ou consensual. Gera-se a dicotomia entre
civilizados e população eventualmente residente. Esta dicotomia, dentre
diversos outros fatores, abordados também neste livro, em verbete específico,
acaba levando à Guerra do Contestado, sangrento conflito havido nestas terras,
com importantes e duradouras consequências para a paisagem antropológica e
cultural desta área.
Na área do município de Caçador não é aplicada
a determinação legal da cessão dos 15 quilômetros de terras à companhia
construtora da estrada de ferro, tanto para exploração madeireira, quanto para
colonização, exatamente porque Francisco Corrêa de Melo era detentor do
documento legal de posse da área. Por isso, na área de sua fazenda, tão somente
foram demarcados 510.052 m², referentes à área do “quadro” da estação
ferroviária, respeitando seu título de posse.
Em relação ao processo de localização e instalação
da Estação Rio Caçador, é importante ressaltar que, até 1916, data em que foi
realizada a assinatura do “acordo de limites” fixando as divisas territoriais
entre os estados de Paraná e Santa Catarina, o território em que foi construída
esta porção da estrada de ferro encontrava-se em litígio. Nessa perspectiva, a
Brazil Railway Company manteve como diretriz a instalação das estações na
margem esquerda do Rio do Peixe (rio que servia de limite provisório aos
estados catarinense e paranaense), no território administrado por Santa
Catarina, o que fez com que a estação fosse instalada em um dos poucos espaços
planos e amplos disponíveis, próximos à margem do Rio do Peixe.
Desta maneira, as áreas localizadas à margem
esquerda do Rio do Peixe foram colonizadas a partir da venda de parte das
terras de Francisco Corrêa de Melo, formando o povoado de “Rio Caçador”. Tal
povoado pertencia ao município de Campos Novos.
Por outro lado, as áreas localizadas à margem
direita do Rio do Peixe tiveram sua colonização a partir de iniciativas da
Companhia de Desenvolvimento Brazil Development & Colonization Company,
braço colonizador da Brazil Railway Company, construtora da ferrovia.
Inicialmente, este povoado foi chamado de “Vila Caçador”, acompanhando o nome
do povoado vizinho, do outro lado do rio. Posteriormente, seu nome foi alterado
para “Vila Santelmo”. Este povoado pertencia ao município de Porto União.
Apesar de tratar-se de dois povoados distintos,
inclusive pertencentes a municípios diferentes, a intrínseca relação de proximidade
possibilitou o desenvolvimento paralelo entre as duas comunidades. Produtos e
serviços eram compartilhados, sendo a Estação Ferroviária um elemento em comum,
utilizada para o transporte de cargas, transporte de passageiros e circulação
de mercadorias. Tal processo intensificou-se a partir de 1924, com a construção
de uma ponte de madeira sobre o Rio do Peixe, ligando as duas localidades, uma iniciativa
do pioneiro Antônio Bortolon.
Diante do progresso deste distrito, o município
de Curitibanos passa a questionar os limites com o município de Campos Novos,
requisitando que a área ocupada pelo distrito de Rio Caçador passasse a
integrar seus domínios. Uma publicação do jornal “O Município” da cidade de
Campos Novos datada de 20 de setembro de 1924, dá conta de mobilização popular
contrária a esta alteração, em dois telegramas endereçados ao “Congresso do
Estado” em linguagem própria dos telegramas e reproduzidas abaixo:
“Exmos. Membros Congresso Estado.
Florianópolis. Os abaixo assignados proprietários residentes districto Rio
Caçador, interpretando sentimentos população pedem vossas Exas. urgente solução
questão limites Curitybanos Campos Novos resolvendo causa favorável este
Município a quem reconhecemos direitos e justiça.” (Assinado
por sessenta cidadãos residentes no distrito)
“Egrégios Membros Congresso. Florianópolis.
Declaro perante vossas Exas. que há quarenta annos apossei-me deste logar onde
adquiri terras medidas e legitimadas Juiz Comissário Campos Novos onde sempre
reconheci. Peza-me meus noventa e seis annos ver pretensão Curitybanos esbulhar
sagrados direitos. Faço esta declaração confiante verdadeira justiça Congresso
dirimir questão.” (Assinado por Francisco Corrêa de Mello)
Neste ponto, outro importantíssimo personagem
de nossa história, Leônidas Coelho de Souza, merece destaque pelo trabalho
desempenhado nos prolegômenos da emancipação do município. Instalou-se na vila
de Rio Caçador em 1926 com sua família, de onde comandava uma empresa
colonizadora e construtora de estradas. Tendo já um histórico político, somado
ao seu perfil técnico e profissional, foi designado pelo município de Cruzeiro
(atual Joaçaba) para organizar o quadro urbano da sede distrital da Vila
Caçador, quando então abriu os trabalhos pró-emancipação do futuro Município de
Caçador.
Na revolução de 1930 teve um destacado papel,
como Coronel da Guarda Nacional, atuando também na revolução constitucionalista
de 1932. Retornando a Rio Caçador em 1933, com a força e o peso que seus
trabalhos nos diversos setores lhe conferiam, liderou o movimento popular
desencadeado no Alto Vale do Rio do Peixe para a criação do Município de
Caçador. Foi, certamente, o principal articulador deste movimento junto às
autoridades estaduais.
Com a resistência do município de Campos Novos
à emancipação do distrito, a alternativa encontrada foi a de, no ano de 1932,
transferir o distrito para a administração do município de Curitibanos, o que
facilitou sobremaneira o processo junto ao Governo Estadual.
É necessário destacar, neste relato, a importância
histórica do imigrante italiano Dante Mosconi que, vindo de Passo Fundo com a
intenção de conhecer mais a região, atraído pelas maravilhas contadas por
Leônidas Coelho de Souza, é convencido a instalar-se em Caçador e, em 1928,
fundar o Colégio Aurora, transformando esta terra em uma referência no ensino,
fazendo com que famílias de toda a região enviassem seus filhos para estudar na
instituição.
A situação nacional desta época é agitada, com
o fim da época conhecida como “República Velha” e o acontecimento da revolução
de 1930, que implementou a ditadura, comandada por Getúlio Vargas e seu
“Governo Provisório”, até a promulgação de uma nova constituição (16 de julho
de 1934), exatamente no ano da emancipação do município de Caçador. Nesta época
os “Presidentes dos Estados” (atuais Governadores) passaram a ser nomeados
diretamente pelo Presidente da República, no papel de “Interventores Federais”.
Este era o caso do Coronel Aristiliano Ramos, Interventor Federal no Estado de
Santa Catarina no período de 1933 a 1935 e que, no dia 22 de fevereiro de 1934,
publica o Decreto nº 508, criando o município de Caçador, sendo esta a primeira
vez que o nome “Caçador” é utilizado oficialmente.
Diz o Decreto:
DECRETO
Nº508
O Coronel Aristiliano Ramos, Interventor
Federal no Estado de Santa Catarina, no uso de suas atribuições, Considerando
que os atuais distritos de Santelmo, Taquara Verde, Rio Caçador, Rio das Antas,
São Bento e parte de São João dos Pobres, possuem população, território e
rendas suficientes e bem assim desenvolvimento econômico capaz para se
constituírem em Município, e Considerando que de sua renda própria os
Municípios a que pertencem tiram grande percentagem da tributação arrecadada
nesses distritos; ainda Considerando que essa cooperação forçada impede e
dificulta enormemente o desenvolvimento desses distritos; Considerando mais que
há muito os seus habitantes vêm procurando realizar a sua emancipação
administrativa;
DECRETA:
Art.
1º. - Fica criado o Município de Caçador, cujo território será constituído dos
distritos de Santelmo, Taquara Verde e parte do de São João dos Pobres,
desmembrados de Porto União; Rio Caçador, de Curitibanos; Rio das Antas, de
Campos Novos, e São Bento de Cruzeiro; com os limites abaixo e constantes do
mapa incluso:
Ao
Norte: - Com o Estado do Paraná e o Município de Porto União; partindo da
cabeceira do Rio Jangada, por este abaixo até encontrar o marco da divisa da
Fazenda Lumber antiga São Roque, por essa divisa até alcançar o Rio do Bugre,
por este abaixo até a sua foz no Rio do Peixe, por este abaixo até o seu
primeiro afluente da margem esquerda denominado Lageado Tortato, por este acima
até a sua cabeceira, daí em linha reta rumo Leste até encontrar o Rio Caçador,
por este acima até a sua mais alta nascente.
A
Leste:- Com o distrito de São Sebastião das Perdizes como segue: Partindo da
mais alta cabeceira do Rio Caçador seguindo o divisor das águas até a mais alta
cabeceira do Rio Veado e por este abaixo até a linha sêca que vai em rumo sul
até o Rio das Pedras.
Ao
Sul:- Com os municípios de Campos Novos e Cruzeiro; pelo Rio das Pedras abaixo
até a barra do Loteamento do Salto e deste ponto em linha sêca até encontrar a
mais alta cabeceira do Arroio “Lageado dos Vicentes” e por esse arroio abaixo
até a sua foz no rio do Peixe. Deste ultimo ponto, pelo Rio do Peixe abaixo até
um seu afluente da margem direita
denominado “Arroio do Lucas” e por este acima até a sua mais alta
nascente. Daí, em linha sêca em rumo do Oeste, até o Rio S. Bento.
A
Oeste:- Pelo rio São Bento acima até a barra do Rio Bentinho e por este acima
até o marco da Imbuia, marcada, cravada no travessão da Fazenda Raimundo
Mendes, por este até alcançar o Rio Santo Antonio, por este rio acima até a sua
mais alta cabeceira e daí em linha réta, até o ponto de partida na cabeceira do
Rio Jangada.
Art.
2º. - A sede do novo Município será constituída pelos povoados de Rio Caçador e
Santelmo, que se denominará Caçador.
Art.
3º. - O Município ora criado ficará jurisdicionado à Comarca de Porto União.
Art.
4º. - A instalação do Município de Caçador se procederá no dia 18 de março
vindouro.
Art.
5º. - Revogam-se as disposições em contrário.
Palácio
do Governo em Florianópolis, 22 de fevereiro de 1934.
ARISTILIANO
RAMOS
Plácido
Olimpio de Oliveira
Perceba-se que o decreto fala na data de 18 de
março como a data da instalação oficial do município, e não no dia 25 de março,
como efetivamente ocorreu. Não existem registros históricos que expliquem as
razões desta mudança de uma semana, mas fazemos algumas considerações a
respeito no verbete relativo à Rua 25 de Março.
Leônidas Coelho de Souza, principal articulador
deste processo, foi nomeado pelo interventor Coronel Aristiliano Ramos como o primeiro
Prefeito Provisório do recém-instalado Município de Caçador, ficando neste
cargo até abril do ano seguinte.
A denominação de nossa cidade ainda sofreria um
questionamento, que chegou a ameaçar a permanência do nome Caçador para nossa
cidade.
No final da década de 1930, segundo relato de
Domingos Paganelli, em seu livro “SobreVida”, o Departamento de Geografia e
Estatística (ou algum órgão da época com esta função) fez um levantamento e
listou as cidades brasileiras que eram homônimas, determinando que não poderiam
existir duas cidades com o mesmo nome, devendo as mais antigas permanecer com o
nome original, restando às mais novas a obrigatória troca da denominação.
Paganelli relata que em São Paulo havia uma
cidade com o mesmo nome da nossa e o Departamento considerou-a como mais
antiga, devendo Caçador trocar o seu nome.
A discussão arrastou-se por anos. Forçados a
tomar posição e cumprir o que a lei determinava, o então prefeito, Manoel
Siqueira Bello formou uma comissão que, apesar das lamentações, pois ninguém
queria fazê-lo, trabalhou para a mudança do nome.
O prefeito chegou a sugerir que fosse adotado o
nome de Caçanjurê, nome de um cacique, cuja tribo habitou a serra da Taquara
Verde. Quando a votação da mudança já estava iniciada, Domingos Paganelli sugeriu
que deveria ser feita uma comunicação ao Departamento, argumentando que o nome
de nossa cidade estava vinculado à criação da estação ferroviária Rio Caçador,
inaugurada em 1910, o que nos daria primazia no critério da antiguidade. Desta
forma, foi comprovado e reconhecido que Caçador, em Santa Catarina, tinha o
nome há mais tempo, fato que estabeleceu definitivamente o nome.
Como visto, no caso de Caçador, não é possível
separar o nome da história. Além disso, todos os fatos, datas e personagens
ligam-se tão claramente à fundação do município que seria normal vê-los citados
na denominação dos logradouros de Caçador, que passaremos a relatar.